
Eduardo Goldenberg é o que podemos chamar de um homem de princípios.
Embora ganhe a vida advogando, ele é brizolista desde a adolescência e aprontou uma boa com Renata Ceribelli num festival de música da Globo, ao vivo, ao sacar rapidamente um boné do bolso e exclamar “Faz um 12, Brizola”!
Anos depois, mantendo esse espírito combativo, descobriu que fim tiveram os documentos do processo de sonegação contra a Globo. Como se não bastasse, ainda é grande amigo de Aldir Blanc, gênio da raça.
Edu tem um livro de crônicas de botequim e mantém há anos um blog em que divide com os leitores seu riquíssimo universo sobre samba, política, botequins e receitas.
Tudo isso acontece na Tijuca, sua divina aldeia. “O que diferencia o tijucano dos demais é justamente a sensação de autossuficiência que o bairro dá a ele. O tijucano, é claro, vai à praia: mas pode ter certeza de que ele estará cercado de tijucanos, transformando aquele trecho da orla numa espécie de embaixada da Tijuca”, diz ele. “Mas a autossuficiência é sua grande característica: o tijucano viveria, facilmente, sem sair dos seus domínios. E seria feliz”.
Eu tive o prazer de ser guiado por ele entre os melhores botequins do pedaço.

É pouco dizer apenas que o galeto do Rex é o melhor que já comi, pois ele também é uma das melhores coisas que experimentei, sem a menor sombra de dúvida. Gosto de brasa, tempero delicioso, pele crocante e carne tão úmida que até o peito é uma delícia. “Ótimo”, como dizem por lá, na Tijuca.

Nas sextas e sábados o Britania recebe ostras frescas que o dono abre pessoalmente uma a uma, servindo com o maior carinho, bem geladas, por um puta preço justo, característica do bairro. Carioca que não conhece esse bar deve o fazer imediatamente! E ainda serve mexilhões, com gostoso tempero à base de tomate e cebola. Qualquer hora dessas, volto pra provar a pescada que me ofereceram, mas recusei educadamente para prosseguir a maratona.

Terra de lindas árvores, praças bem cuidadas (uma raridade!) e históricos casarões, a Tijuca prima por pequenas obras de arte espalhadas pelos mais autênticos botequins, como o jiló ao vinagrete do América e também a suculenta carne de sol com presunto, alho torrado e mandioca na manteiga de garrafa do Bar do Chico, que tem uma boa batida de maracujá.

Se bem que nenhuma batida de maracujá se compara à servida pelo atrapalhado, porém adorável garçom Paulo, no Rio-Brasília, que é um dos melhores botequins onde já pisei. Lugar pra passar horas tomando cerveja, batidas de maracujá ou gengibre que descem bem com a lingüiça mineira e a batata calabresa da casa.

Quer um japonês? Corra para o Mitsuba, que tem farta oferta de peixes difíceis de achar até na Liberdade. Dependendo da noite, lá se encontra cavala, olhete, sardinha, carapau…

Mas, falando em sardinha, é necessário dizer que a feira da Afonso Penna, realizada aos domingos, dá um cacete na mais cara e famosa feira do Pacaembu, em São Paulo. Excelentes bancas de verdura, lindos peixes e até uma banca com bons cortes suínos! Confesso que quase comprei uma barriga de porco extremamente bonita que vi lá. Pra não falar nas DUAS bancas que só vendem sardinha!

O que falar do Huan Lian, dentro do Centro Cultural da China, no fim da Rua Iguatemi, logo depois do Aconchego? Eu e mais três pessoas queridas tivemos um banquete magnífico lá, onde comemos guioza, chow mein, rã fresquíssima, lombo de porco agridoce, costela suína apimentada, pato laqueado, um esplêndido ovo milenar e mais alguma coisa que provavelmente esqueci, devido à quantidade colossal de cervejas bebidas. A conta saiu por uns 240 mangos, o que só comprova que a Tijuca reina soberana no quesito custo/benefício. Aliás, o maracujá do Rio-Brasília é vendido por inacreditáveis 2 reais!