
Denúncia feita pelo professor e pesquisador Vinicios Betiol aponta que a plataforma de vídeos Kwai está favorecendo conteúdos políticos alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro e críticos ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo Betiol, usuários receberam mensagens incentivando a criação de vídeos dentro dessa temática, com a promessa de impulsionamento para aqueles considerados de “boa qualidade”. “Em uma das mensagens, orientou os influenciadores da rede que o tema em destaque será a mentira de que o vídeo passado pelo Alexandre de Moraes poderia anular o processo contra o Bolsonaro”, escreve Betiol.
Durante o seu voto na quarta-feira (26), o ministro do STF exibiu um vídeo sobre o terror na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Ele utilizou as imagens para afirmar que a ação havia sido organizada e violenta.
O pesquisador compartilhou um vídeo do usuário Ivan Vieira, que gravou a tela do próprio celular para comprovar a manipulação. Vieira afirma ter sido um dos destinatários da mensagem e expôs o conteúdo para evidenciar a prática: nele, vê-se que a plataforma pede para que sejam publicados conteúdos com o mote “Vídeo ilegal pode anular processo contra Bolsonaro”.
O Kwai impõe como alguns dos requisitos aos participantes que seja publicado pelo menos um vídeo por dia e que a hashtag a ser usada seja a palavra #ilegal.
O @ivanvieira_5 foi um dos que recebeu a mensagem e fez um vídeo gravando a tela pra provar a manipulação do Kwai contra a nossa democracia e contra o nosso judiciário.pic.twitter.com/QgLzbfgfFg
— Vinicios Betiol (@vinicios_betiol) March 31, 2025
Histórico de apoio a Bolsonaro
Reportagem da revista Piauí datada de janeiro de 2024 denunciou que a plataforma adotou práticas irregulares para favorecer Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022 e clonagem de perfis de usuários.
Uma das práticas identificadas foi o impulsionamento de candidatos, algo proibido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que determina que apenas os próprios candidatos e suas campanhas podem realizar esse tipo de ação de forma transparente. “Quando Bolsonaro estreou na plataforma, em maio de 2022, a empresa sigilosamente turbinou a distribuição. Diante dos protestos da equipe brasileira da rede social, o então candidato Lula também recebeu o boost quando seu perfil foi criado”, informava a revista.
Além disso, a plataforma clonava conteúdos de concorrentes e criava perfis sem autorização de seus proprietários. “Diversos produtores de conteúdo se queixavam da situação de encontrarem contas copiadas, achando que isso era prática de hackers ou criminosos digitais. Nunca imaginaram que a autoria de tais contas era do próprio Kwai”, revelou uma ex-executiva da plataforma em um processo trabalhista contra a empresa.
Em julho de 2022, enquanto tramava um golpe de Estado com aliados civis e militares, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) acumulava mais de 13 milhões de visualizações no Kwai, rede social de vídeos curtos que disputava espaço com o TikTok. Esse volume correspondia a 45% de todo o alcance do presidente na plataforma até aquele momento. Os vídeos com desinformação publicados por Bolsonaro tiveram desempenho muito superior aos demais, com média de 435 mil visualizações — quase três vezes mais que os outros conteúdos.

O vídeo mais visto, com 8,6 milhões de visualizações, trazia Bolsonaro desacreditando pesquisas de intenção de voto. Ele usava a mentira de que, em 2018, os institutos não indicavam sua ida ao segundo turno — algo que não correspondia à realidade. O mesmo vídeo também foi publicado no TikTok, onde teve cerca de 500 mil visualizações.
Até o dia 11 daquele mês, Bolsonaro havia publicado 157 vídeos no Kwai. A maioria (74) eram trechos de discursos ou entrevistas; outros 34 mostravam encontros com apoiadores. A conta havia sido criada em 19 de maio, e o presidente já havia ultrapassado 1,3 milhão de seguidores — ritmo de crescimento mais acelerado que no TikTok, onde levou cerca de oito meses para alcançar o mesmo número. Na plataforma chinesa, somava 1,8 milhão de seguidores.
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