Líderes de seita que usavam “porrete Disciplina” viram réus por escravidão no Pará

Atualizado em 4 de junho de 2024 às 23:03
Mão segurando pedaço de madeira escrito "disciplina"
Ripa de madeira – Reprodução/Ministério Público do Trabalho

O Ministério Público do Trabalho (MPT) no Pará moveu uma ação contra nove líderes da Comunidade Lucas, uma seita religiosa situada em Baião, acusando-os de escravizar seus seguidores. Entre as acusações, estão a retenção de cartões do Bolsa Família por líderes religiosos, a imposição de trabalho forçado sem remuneração, castigos corporais, e abuso sexual de adolescentes. Com informações do site Repórter Brasil.

A Comunidade Lucas, fundada na década de 1990 por um pastor evangélico, prometia uma vida comunitária baseada na partilha de bens e na fé. No entanto, relatos de violência física e psicológica permeiam o cotidiano do grupo, conforme detalhado na ação movida pelo MPT. Segundo a procuradora Tathiane Menezes do Nascimento, a situação é profundamente chocante tanto profissional quanto pessoalmente.

Os membros da comunidade trabalhavam sem salário em diversas atividades, como garçons, cozinheiros, fabricantes de móveis, costureiros, e produtores de farinha. As tarefas eram classificadas como “voluntárias” para um suposto benefício coletivo. Os líderes também retinham cartões de benefícios sociais e realizavam empréstimos em nome dos integrantes.

Alojamentos improvisados onde membros da comunidade que produziam roupas dormiam e trabalhavam
Alojamentos improvisados onde membros da comunidade que produziam roupas dormiam e trabalhavam – Reprodução/Ministério Público do Trabalho

Levy Sousa do Rosário, um ex-membro, relatou abusos desde a infância, incluindo trabalhos forçados e espancamentos. Instrumentos de punição, como ripas de madeira inscritas com a palavra “Disciplina”, eram utilizados para manter a ordem. Crianças eram incitadas a agredir umas às outras como forma de punição.

A ação do MPT também acusa os líderes de explorar sexualmente crianças e adolescentes sob o pretexto de ensiná-las a “serem boas esposas”. As que se recusavam enfrentavam ameaças, raspagem de cabelo, e outras punições. Um caderno, usado como prova, continha misturas de ensinamentos bíblicos com anotações sobre práticas sexuais.

A investigação do MPT começou após denúncias relacionadas a um bar controlado pelos líderes da comunidade, onde os membros eram submetidos a jornadas exaustivas e alojamentos precários. A situação ganhou destaque nacional em setembro de 2022, após uma reportagem do “Fantástico”, da Rede Globo.

Jacuzzi azul em banheiro
Líderes da seita tinham jacuzzi em banheiro – Reprodução/Ministério Público do Trabalho

Atualmente, cinco líderes da seita estão presos, mas a Comunidade Lucas continua ativa. A retirada dos moradores é um desafio, pois muitos nasceram e cresceram na comunidade e não têm desejo de sair.

Na ação civil pública, o MPT solicita R$ 5 milhões em indenização por danos morais coletivos e a regularização dos direitos trabalhistas dos membros da comunidade. O processo será julgado pela Vara do Trabalho de Tucuruí (PA), enquanto a ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF) já resultou na condenação criminal de cinco líderes religiosos.

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