
O DCMTV recebeu, na manhã seguinte à apresentação do voto do relator pela sua cassação, o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que responde a um processo no Conselho de Ética da Câmara.
A representação contra o parlamentar se refere a um episódio ocorrido em abril do ano passado, quando ele se envolveu em uma discussão com Gabriel Costenaro, influenciador ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL), dentro das dependências da Câmara dos Deputados.
Segundo Glauber, o influenciador o vinha assediando em diversas ocasiões e, ao conseguir acessar o espaço reservado à atuação parlamentar, teria partido para ofensas contra sua mãe, que se encontrava gravemente doente e faleceu dias depois. A situação teria escalado até o momento em que Glauber retirou Costenaro do local com empurrões e um chute.
A mobilização contra a injustiça
O dia de hoje é melhor que o dia de ontem por determinação de seguir a luta, sem jogar a toalha, recebendo a solidariedade de vocês e das pessoas. Determinação para esse enfrentamento, que é necessário e não pode deixar de ser feito. Eu acredito na moçada, e isso me faz agradecer pelo fato de que, todas as manhãs, no Conselho de Ética, desde o início desse processo que está completando um ano, sempre havia trabalhadores, gente mobilizada, fazendo o enfrentamento político — por vezes, até mesmo sem mobilização da nossa parte —, e a sala sempre estava cheia. Isso me coloca na obrigação política e moral de colocar todas as minhas energias para fazer a defesa do mandato.
Sabemos que o cenário é difícil, é duro. Eles vão colocar esse parecer para ser votado na semana que vem no Conselho. Depois, vai ao plenário da Câmara. Mas não haverá, da nossa parte, nenhum passo atrás, nenhum ajoelhamento diante da tentativa de intimidação. Vamos para cima. Vamos para a briga.
Relatório comprado
Aquele relatório está comprado. A verdade é essa — e comprado com dinheiro do orçamento secreto. Não estou falando da boca para fora; estou falando a partir do cruzamento de informações dos municípios em que o relator é o principal líder político e daquela lista que foi suspensa pelo Flávio Dino no final do ano. E estou falando só de uma lista. Imaginem o que não há em outras listas do orçamento secreto.
Sobre o trecho lido pelo relator, do depoimento do deputado Alberto Fraga, a distorção colocada pelo relator é total, pois o depoimento, que era para ser de acusação, se transformou em depoimento de defesa. Em determinado momento, quando questionado pelo deputado Chico Alencar sobre o que ele faria se estivesse no meu lugar e tivesse a mãe insultada como a minha foi, o deputado Alberto Fraga — que não é meu aliado, muito pelo contrário, é de uma linha política completamente diferente da minha — disse: “Se isso acontecesse, eu quebrava na porrada”.
Então, todo mundo sabe que esse procedimento não tem a ver com a minha reação ao mini bandido do MBL, que estava em processo de perseguição ao mandato por inúmeras vezes e que fez ofensas contra a minha mãe, que inclusive veio a falecer no mês seguinte.
Hoje saiu uma matéria do Bernardo Mello Franco contando que o Paulo Magalhães [relator do processo], no ano de 2001, deu socos e pontapés em um escritor que estava lançando um livro de denúncia contra ACM, parente dele, Paulo Magalhães. Olhem a ironia do destino.
Se fosse mesmo por isso, eles teriam cassado uma deputada que correu com pistola na mão e que conclamou generais a darem golpe de Estado. Teriam cassado o deputado Éder Mauro, que deu um soco em um sindicalista dentro de uma comissão e que diz com todas as letras: “Matei mesmo”. Teriam cassado deputados diretamente envolvidos na tentativa de golpe de Estado do dia 8 de janeiro.
As verdadeiras razões para a cassação
Eles estão fazendo isso porque o relatório foi comprado pela articulação do Paulo Magalhães com Arthur Lira. É Arthur Lira que quer me calar por conta das denúncias relacionadas ao orçamento secreto e por conta daquilo que fez — e faz — Arthur Lira, contra a denúncia que apresentei, inclusive, na Polícia Federal, baseada na “lavanderia” de Lira, que é o município de Rio Largo, que recebeu, em um espaço de tempo curto, R$ 90 milhões — dinheiro esse do orçamento secreto. Eles sabem que é por conta disso.
Mas é por um segundo componente também: eles sabem que não têm como segurar o Chiquinho Brazão, então querem colocar as duas votações acontecendo conjuntamente, para gerar um constrangimento na militância da esquerda. É isso que está em jogo neste momento, nessa votação e nesse relatório que foi apresentado pelo Paulo Magalhães.
Eu não estou lutando contra o Paulo Magalhães, pois ele é só o fantoche que foi comprado. Eu estou lutando contra o orçamento secreto, que está presente diretamente na confecção daquele relatório.
O Paulo Magalhães sabe que esse relatório é comprado. Ele sabe que, antes de ser designado relator, me parou ali na rampa, perto do corredor das comissões, e me disse: “Vi sua defesa, que absurdo o que estão fazendo. Isso é uma injustiça. Conte comigo.” Eu não sei como uma pessoa consegue colocar a cabeça no travesseiro e dormir com tamanha falsidade. Mas, no íntimo dele, ele sabe que isso é verdade. Quando ele estiver sozinho, eu serei uma assombração na vida dele. Ele sabe que é um mentiroso.
Lira retirou seguranças
Temos preocupação e contamos com estratégia e seguranças. Quando meu cunhado foi assassinado, houve a orientação de solicitar a escolta da Polícia Legislativa. Ela foi concedida, mas precisava ser revalidada. Sâmia procurou Lira, que disse que renovaria, comentando, inclusive: ‘É chato, né, andar com segurança?’ [Diego Ralf Bomfim, de 35 anos, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), foi assassinado no início de outubro do ano passado, na Barra da Tijuca, com outros dois colegas].
No que eu subo na tribuna e faço uma cobrança moderada pela ausência de pessoas nas galerias naquela sessão, que tinha sido proibido por ele, ele foi e cortou a escolta da Sâmia. É disso que Arthur Lira é capaz, daí vocês podem aferir o resto.
Os próximos passos do processo
Agora vão abrir para discussão entre os deputados que estiverem no Conselho de Ética, e depois disso colocam em votação o voto do relator. A votação será aberta. O pedido de vistas garante um adiamento temporário. No plenário, a votação também é aberta.
Vamos lutar com todas as nossas forças para reverter essa história. Há possibilidade de recurso no STF, e, se for preciso, farei. Depois que passa pelo Conselho de Ética, pode passar pela CCJ e depois pelo plenário. Aí, a perda do mandato seria imediata, a partir da votação da cassação, e geraria uma inelegibilidade de 10 anos — que são os 8 anos mais os dois que restariam para o fim do mandato.
PSOL procurou Gleisi Hoffmann
Parlamentares do PSOL me procuraram, perguntando se podiam fazer conversas com figuras públicas, demonstrando se tratar de uma injustiça com consequências graves. Agradeço a quem está se movimentando e procurando reforçar a luta do mandato. Evidentemente, meu debate é público. Todo mundo que quiser ouvir e avaliar as consequências disso será procurado — seja a ministra Gleisi, sejam também outras figuras públicas que queiram ouvir o que está em jogo nessa história.
Ex-esposa de Lira seria testemunha de Glauber
Juliane Lins é uma das principais testemunhas das falcatruas e do modus operandi de Arthur Lira. Eu a indiquei como testemunha no Conselho de Ética, com autorização dela, e o testemunho foi negado pelo relator. Ela tem tido uma postura corajosa de denúncia contra Arthur Lira, tem sofrido consequências gravíssimas por conta disso, e merece toda a nossa solidariedade.
Relator rejeitou testemunhas de defesa
Ele fez um arrazoado com a justificativa de que aquelas testemunhas não envolviam diretamente o processo e seriam testemunhas para fustigar o então presidente da Câmara, Arthur Lira. Mas tinham tudo a ver com o processo, pois a defesa tem que ser ampla, e nessa defesa eu estava mostrando que aquele processo estava sendo conduzido por uma perseguição tocada por Lira, e que o que ele estava fazendo comigo, como tentativa de silenciamento, era um modus operandi que ele já havia praticado com outras pessoas — inclusive com jornalistas.
“Ninguém perde por agir corretamente”
Ontem, antes de ir para o Conselho de Ética, eu sentei no meu gabinete e mentalizei uma conversa com minha mãe e com uma outra pessoa que tenho profunda admiração e que também não está mais entre nós, para pedir serenidade para poder passar por aquele momento. Eu, de fato, estava com o coração tranquilo, apesar de indignado. Tem uma frase que minha mãe sempre me dizia quando eu estava angustiado, porque achava que estava sofrendo alguma injustiça. Ela dizia: “Meu filho, ninguém perde por agir corretamente.” Isso tem força extra para superar os obstáculos que possam parecer intransponíveis.