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MBL admite culpa pela balbúrdia política do país e diz que exagerou na agressividade da retórica

Renan Santos, dirigente e um dos fundadores do MBL. Foto: Reprodução/YouTube

Da Folha:

Prestes a completar cinco anos e com um documentário no forno, o MBL (Movimento Brasil Livre) quer sanar o debate público que admite ter ajudado a deteriorar.

Em entrevista à Folha, o coordenador nacional Renan Santos, 35, reconhece que ele e seus colegas abriram “a caixa de Pandora de um discurso polarizado”.

Ao assumir exageros, como no episódio do cancelamento da mostra Queermuseum, o MBL se distancia ainda mais do governo Jair Bolsonaro (PSL). A postura crítica já lhes rendeu a perda de 400 mil seguidores em diversas redes sociais, pouco menos de 10% do seu público.

Com 5.500 membros em 250 cidades, Santos diz que o movimento, que ficou conhecido pela agressividade retórica contra opositores e a imprensa, pretende agora se voltar mais para temas locais em detrimento dos nacionais. Promete ser “paz e amor na forma de dialogar com o outro”. ​

Como se sente quando o MBL é chamado de traidor da direita?

Eu não dou bola. Nós criamos os estímulos da polarização, e esses estímulos podem ser usados contra nós mesmos. O cara da extrema direita ganha muito ao nos chamar de traidor. Ganha views, ganha likes.

Foi um erro ter apoiado Bolsonaro no segundo turno?

Foi um erro endossar candidaturas majoritárias. Erramos em apoiar [João] Doria. Erramos em endossar Bolsonaro no segundo turno. Mas também não havia o que fazer. Se o PT chegasse ao poder, a gente teria guerra civil. A classe média e o centro-sul não iriam aceitar o resultado. (…)

Como vê a crítica de que o MBL ajudou a criar essa situação? A antipolítica esteve em conflito conosco já em 2015. O Olavo de Carvalho defendia a tese da intervenção militar, que invadissem o Congresso. Nós mesmos não nos importamos muito com isso na época. E aí entra o nosso erro. Trabalhamos a ideia de espetacularização da política, e isso funcionou para a gente enfrentar os inimigos. Mas começou a funcionar para todo mundo, inclusive para pessoas que não têm as mesmas concepções que as nossas. A gente tem uma responsabilidade num agravamento do discurso público? Temos. Temos que fazer essa mea culpa. O que queremos é que os outros agentes políticos também a façam: a esquerda, a imprensa…

O que fariam de diferente? A gente espetacularizaria menos, simplificamos demais a linguagem política. A gente polarizou, e era fácil e gostoso polarizar. Quando começaram a proliferar as camisetas do Bolsonaro e as pessoas diziam “mito, mito”, a ideia de infalibilidade dele, muito foi porque ajudamos a destampar uma caixa de Pandora de um discurso polarizado.