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Por George Marques
Após indicar aliados predominantemente de esquerda para a futura composição da Esplanada dos Ministérios, o presidente Lula (PT) tem a missão, agora, de acomodar forças do centro do espectro político que aderiram à chapa vencedora no segundo turno. Um desafio que busca sedimentar a futura base governista no Legislativo, a partir do ano que vem. Entre esses nomes, Lula terá que pescar parlamentares que hoje compõem, inclusive, a base parlamentar do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Nessa costura que vem sendo negociada pelo próprio presidente, o bloco de partidos do centrão e do MDB, PSD e União Brasil devem ser os próximos contemplados, a partir do anúncio que o Lula prometeu realizar, na próxima terça-feira (27/12).
O presidente eleito anunciou 21 nomes do primeiro escalão, Faltam ainda 16 pastas para completar as 37 que o futuro ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT-BA), formatou para a nova Esplanada.
O MDB deverá ter três ministérios no governo Lula. Até o momento, estão cotados Transportes, Cidades e uma pasta que ainda deve ser definida para a senadora Simone Tebet (MDB-MS), talvez, o Meio Ambiente. Dirigentes do partido se reuniram nesta quinta com Lula para bater o martelo sobre as indicações.
Nas bolsas de apostas de Brasília, o Ministério dos Transportes deverá ficar com o senador Renan Filho (MDB-AL), enquanto Cidades pode ser indicado para um deputado do MDB da Câmara. Os emedebistas afirmam que escolheram Transportes pelo potencial de investimentos que poderá ser executado pela pasta e, Cidades, pela capilaridade de suas ações.
Um dos cotados na Câmara dos Deputados para o Ministério das Cidades é o deputado José Priante (MDB-PA). A tendência, segundo integrantes da sigla, é que os parlamentares do Pará tenham preferência, uma vez que o estado elegeu 9 dos 42 deputados do partido.
Fechada a questão com o MDB, as pastas de Minas e Energia e Desenvolvimento Regional seriam indicadas para União Brasil e PSD. Para Minas e Energia está cotado o senador Alexandre Silveira (PSD-MG), que foi coordenador da campanha de Lula em Minas Gerais. Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), poderá ser a cota do Senado para o Desenvolvimento Regional.
Outros ministérios como Pesca e Turismo devem ser contemplados com partidos que Lula pretende atrair para seu arco de alianças.
O Centrão é comandado por Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, que sofreu alguns revezes esta semana, como a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) considerar inconstitucional o chamado “orçamento secreto”. Apesar disso, Lira se empenhou na articulação para aprovar a PEC de Transição, proposta que possibilitará a Lula quitar as primeiras promessas de campanha.
Tradicionalmente, o Centrão tem papel essencial no Congresso, pois forma o maior bloco em ambas as Casas. Por isso, governos costumam ter dificuldades em avançar propostas sem conquistar o apoio do grupo. O que, quase sempre, é feito por meio de troca de postos na Esplanada.
Hoje, a base de Lula na Câmara dos Deputados com os partidos de esquerda, mais o MDB, União Brasil e PSD, não chega a 270 deputados. Para aprovar uma PEC, precisa de no mínimo 308 votos, o que torna as costuras muito difíceis.
Há um desafio no horizonte petista para superar ano que vem: um Congresso mais à direita e ainda bolsonarista, aliado a uma oposição mais organizada. Como o PL, partido do ainda presidente, que passará a ter 99 deputados na Câmara, a maior bancada da Casa.
Por último e não menos importante, Lula precisará resolver os espaços destinados a Simone Tebet (MDB-MS) e Marina Silva (Rede-SP), aliadas que abraçaram a campanha petista num sinal de ampliação da frente ampla anti-Bolsonaro. A demora para resolver o espaço que cada uma vai ocupar acabou por ampliar o zumzumzum e um falatório que poderiam ter sido evitados, nesta etapa de transição.