
POR PAULO PIMENTA, jornalista, deputado federal (PT-RS) e líder do partido na Câmara
O presidente eleito, capitão Jair Bolsonaro, apresenta uma fixação quase doentia pelo PT, seus símbolos, suas cores e seus líderes. Infelizmente, esta relação de ódio e de rejeição a toda e qualquer ação ou programa do Partido dos Trabalhadores não fará bem ao Brasil.
É o que começamos a ver com o desmantelamento e o iminente fim do Mais Médicos. Uma tragédia para a saúde da população de mais de 50% dos municípios brasileiros. Atualmente, 2.885 prefeituras participam do programa. Destes, 1.575 municípios, a maioria com menos de 20 mil habitantes e distribuídos em todas as regiões do país, depende exclusivamente dos médicos que participam do programa.
Bolsonaro acabou com um programa que conta com o apoio maciço da população, dos prefeitos e dos governadores, justamente por ter levado assistência básica a milhões de brasileiros. O Mais Médicos chegou ao semiárido nordestino, a áreas remotas da Amazônia, às regiões de mais baixo IDH do país, às periferias das grandes cidades, às aldeias indígenas, a cidades que nunca haviam tido um único médico antes da chegada dos profissionais cubanos em 2013.
Afinal, qual é, então, o grande erro ou falha do programa?
Na visão de Bolsonaro, o problema está em Cuba e no PT. De forma enviesada, ele enxerga no programa um passo para a implantação do comunismo no Brasil. Não adianta argumentar que o pequeno país da América Central levou assistência médica, nos últimos 50 anos, a mais de 100 países independentemente de ideologia política.
Para ele e seus seguidores, prevalece a irracionalidade que faz da cor vermelha a representação do demônio na Terra. Vermelho é só uma cor, estampada inclusive na bandeira de vários países. São incapazes de perceber que, ao contrário do regime comunista, foi nos governos do PT que o capitalismo nativo viveu o seu apogeu, com a maior valorização de ativos das empresas brasileiras. Algumas delas tornaram-se as maiores empresas do mundo nos seus setores.
Nessa mesma linha de incoerências e impropriedades, o que dizer do novo chanceler escolhido pelo futuro presidente para comandar as relações internacionais do Brasil, cujo o único pré-requisito que o qualifica é o ódio ao PT? Tais aberrações seriam risíveis e poderiam até ser tratadas como piada, mas não podemos ser irresponsáveis a este ponto.
O fim do Mais Médicos é o primeiro passo de uma caminhada de irracionalidade, intolerância e ódio. Bolsonaro, cumpre o que já havia prometido mais de uma vez. Em 18 de outubro de 2016, no plenário da Câmara dos Deputados, reafirmou seu desejo de acabar com o programa: “Quero cumprimentar os médicos pelo seu dia e, no que depender de mim, no futuro, podem ter certeza de que vocês serão reconhecidos, primeiramente, com o envio de volta para Cuba dos 12 mil contratados que estão aqui”, prometeu o capitão, de maneira inconsequente.
Após ser eleito e anunciar mudanças na forma de contratação e funcionamento do programa, Bolsonaro agiu de forma unilateral, autoritária e irresponsável. De uma só vez, colocou sob suspeita a capacidade profissional dos médicos e a lisura do governo cubano, além da própria Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que intermediou o acordo bilateral entre Brasil e Cuba.
Com esse desfecho, o capitão vence sua batalha ideológica, mas deixa um rastro de 30 milhões de brasileiros entregues à própria sorte, sem acesso às ações de promoção de saúde, prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças básicas.