
A Argentina participa da Abav Expo 2018, feira internacional de turismo que acontece em São Paulo, no Pavilhão do Anhembi, entre 26 e 28 de setembro.
Gustavo Santos, secretário de Turismo da Argentina, esteve presente e atendeu a jornalistas na tarde desta quinta-feira (27).
Duranta a meia hora de conversa – cronometrada pelos assessores -, Santos usou as belas paisagens, a gastronomia e o vinho do país hermano para se esquivar de questionamentos sobre as tragédias criadas pelo neoliberalismo de Macri.
A Argentina vem enfrentando uma das piores crises de sua história e o governo aposta no turismo como uma saída para a situação.
DCM – Como a crise impacta o turismo argentino?
Gustavo Santos – Na realidade, a desvalorização que se produziu a respeito do dólar na Argentina gera uma vantagem de melhores preços para os turistas estrangeiros. Hoje, a Argentina está muito acessível. Em cerca de um mês o dinheiro passou a valer o dobro. Isso faz com que as pessoas tenham a opção de desfrutar dos mesmos serviços – gastronomia, shows de tango, passeios – a melhores preços. Em termos de preço, agora é uma ótima oportunidade para se visitar a Argentina.
DCM – Inclusive, em 2017 a Argentina foi a campeã da América do Sul em visitas internacionais…
GS – Sim, foi um resultado bem próximo ao do Brasil. Em 2017, 6,7 milhões de turistas estrangeiros visitaram a Argentina.
DCM – E quais são os atrativos que fazem o país ter este desempenho, mesmo em crise?
GS – Além de ter preços muito bons, a Argentina tem muito boas opções de viagem pela variedade de paisagens e culturas que possui. Primeiro, uma grande cidade como Buenos Aires, uma cidade cultural, europeia, conhecida como a Paris sul-americana. Muitos shows, teatros, livrarias, museus… muita noite. É uma cidade cultural muito bem consolidada.
Temos muito boa gastronomia, fomos considerados o melhor destino gastronômico da América Latina em 2018. Temos cidades muito bonitas. Com uma curta distância de voo, você chega a destinos maravilhosos. Para os turistas brasileiros, a Argentina é uma ótima opção. Além da proximidade, existe a vantagem financeira, 1 real hoje vale 10 pesos argentinos. Com 1 real, você compra uma empanada (risos).
DCM – Falando agora um pouco sobre política… estamos acompanhando o crescimento do conservadorismo e de governos neoliberais em toda a América Latina. Na sua visão, o que explica este fenômeno?
GS – Eu acredito que cada país tem sua própria dinâmica e não gosto de me meter nas decisões internas de outros países. O que posso dizer é que, do ponto de vista turístico, temos uma visão – que é do próprio presidente Macri – de que a América Latina deve ser integrada. E a integração entre Brasil e Argentina é fundamental. Toda a América do Sul representa apenas 3% do total de viagens pelo mundo. Isso é uma frustração? Não, é uma enorme oportunidade.
Temos que criar condições para aproveitarmos este potencial. Uma dessas condições é trabalharmos juntos, pensarmos na América do Sul como uma unidade. Se o turista que quiser nos visitar, tiver que tirar um visto para cada país, não compensa. O visto de um chinês que visita o Brasil, deve valer também na Argentina. Tenho certeza que o ministro do Turismo brasileiro, Vinicius Lummertz, tem a mesma visão que eu e trabalharemos juntos para que isto aconteça.
Argentina e Brasil são absolutamente complementares, vocês têm o calor e nós, o frio. Nós temos o vinho e vocês a caipirinha, a cerveja. Temos o tango e vocês têm o samba. Vocês têm as praias, e nós, a neve. O que quero dizer é que devemos trabalhar juntos para que funcionemos como se fossemos um grande mercado interno. É como quando vamos à Europa, entramos por Portugal, vamos à Espanha, à Itália, à França. Se você precisasse de um visto para cada país, te complicaria a vida. O turismo funciona por proximidade.
DCM – Compartilhamos, inclusive os mesmos destinos, como as Cataratas do Iguaçu…
GS – Sim. As Cataratas do Iguaçu não deveriam ter fronteiras, é absurdo que você não possa visitar os dois lados tranquilamente. As fronteiras deveriam existir apenas nas cidades, mas não nas cataratas, porque são a mesma coisa de ambos os lados. Um turista chinês que está em Foz do Iguaçu, não pode ir a Foz porque precisa de um visto. Que loucura!
No segundo semestre do próximo ano, Brasil e Argentina irão juntos a Macau em um evento onde serão os convidados especiais. Ano passado, o convidado de honra foi a França. Esse é o caminho, trabalharmos juntos.
DCM – O Brasil também está em crise. Quais são as lições que podemos aprender com a Argentina para superarmos isso?
GS – É muito difícil dar conselhos aos outros, porque as realidades são muito distintas. Posso dizer o que nós estamos fazendo. Decidimos, depois de 70 anos, não gastar mais dinheiro do que arrecadamos. Acabar com o déficit fiscal. Na sua casa, você não pode gastar mais do que ganha, porque, quando já não tiver mais o que vender, estará devendo ao vizinho, aos amigos, ao banco. Chega um momento em que tem que dizer ‘basta’, para poder pensar em crescer seriamente.
A Argentina está se baseando em três pontos claros: primeiro: acabar com o déficit fiscal, estamos trabalhar com a oposição para a elaboração de um novo orçamento. Segundo: um dólar flutuante, não queremos um dólar atrasado, queremos um dólar que permita a exportação. O outro pilar é a inserção da Argentina no mundo, queremos promover acordos comercias que nos permitam crescer. E tudo isso só será possível se acabarmos com a corrupção na Argentina, isso é fundamental. Com corrupção não se pode crescer, a corrupção é um câncer.