Quem está ganhando a guerra entre gays e evangélicos

Atualizado em 30 de março de 2013 às 10:22

Pregação de um lado e pegação de outro.

gay

 

A comunidade LGBT espera de seus filiados uma posição contra tudo o que sai da boca de um evangélico. Não é para menos, os evangélicos parecem ter uma fixação algo exagerada por gays – pelo menos muito maior do que os gays que eu conheço. As duas facções competem para ver quem tem a maior passeata do país, quem vende mais disco (a diva gospel ou a diva gay?) e quem grita mais alto. No final da briga sobram só as penas no chão, que você não sabe se vieram de uma drag queen engajada ou do frango de macumba que um pastor chutou.

Pastores evangélicos gritam. E o que eles mais gritam é para fugirmos das tentações de Satanás. Não encontram nada de pior para falar no culto do que da homossexualidade, essa coisa do capeta que vez ou outra é chamada também de opção sexual. Quando falam de opção sexual é porque certamente em algum momento da vida se perguntaram, com uma mão no queixo: e agora, fico com homem ou com mulher? E, acredite, existem até pastores que falam de um demônio gay que entra no corpo e te faz falar fino, afeminado. O que não entendo é por que ainda levam a sério essa gente. Como damos atenção para quem merece desprezo!

O pior é que você precisa escolher de que lado fica. Como se um fosse o oposto do outro. Como se evangélico nenhum pudesse ser gay também.

Sou da opinião de que, entre quatro paredes, você pode fazer o que quiser: seja pegação ou pregação.

Mas o rapaz ali do fundo, o barbudinho, me lembrou agora que as coisas não são tão simples, que essa gente dissemina o ódio ou algo assim. Não sei ele, mas eu não me sinto nem um pouco ameaçado por evangélicos quando cruzo com um na rua. Principalmente esses mais novos, amarrotados dentro de ternos Dorinho’s quatro vezes maiores do que o tamanho deles. E, sinceramente, tem como alguém se sentir ameaçado por estes caras?

Sim, barbudinho, eu sei que existe a chamada bancada evangélica e que ela impede avanços da causa gay. Mas me fala uma coisa: existe hoje no país alguém mais ridicularizado do que parlamentar, que além de tudo, é evangélico? Se existe, desconheço. Nem quem bate em gay respeita esses tiozinhos. Aliás, quem bate em gay não respeita nenhuma autoridade, nem a própria mãe, que dirá pastores com o cabelo lambido. Por isso me parece um exagero atribuir crime homofóbico a tudo o que evangélico fala. Por favor, menos. Ou eles acabam se achando e dando mais entrevistas na TV. Ninguém quer isso.

Feliciano dá entrevista: ninguém quer isso, pelo amor de Deus
Feliciano dá entrevista: ninguém quer isso, pelo amor de Deus

Não que não se deva fazer nada contra parlamentares que queiram se meter nas obscenidades dos outros (e que político não gosta de se meter na vida dos outros?), mas se focar em evangélicos desvia um pouco a atenção de quem comete os piores crimes. E esses dificilmente usam o sermão do pastor para sair batendo em gente por aí.

(Em que momento passamos a condenar mais quem fala e pensa asneira do que aquele que faz asneira?)

Além disso, me parece um pouco chato ser associado ao adversário toda vez. Quer dizer, hoje o cara se diz gay e você já supõe que ele não goste de evangélico. Vem no pacote da homossexualidade, junto com um piercing no mamilo e um livrinho do Caio Fernando Abreu. Mesma coisa os evangélicos: você até consegue ler na testa deles “nada contra gays, tenho até amigos que são”.

Não acho que a comunidade LGBT tem muito com o que se preocupar. Se essa briga fosse disputada num cabo de guerra, os evangélicos estariam praticamente sozinhos segurando a corda do outro lado, enquanto os gays, cada vez mais, ganhariam o apoio de vários outros grupos. Os evangélicos são muitos, dirão; pior, são muitos votos. Tudo bem, tudo bem, mas uma coisa que os gays deveriam notar é que nunca tiveram tanto apoio. A mídia, os artistas, a Coca-Cola e até blogueiros de moda apoiam. Deixem um pouco de lado os números e olhem direito para a cara de quem está do outro lado, puxando a corda. Mas olhem bem. Percebem que eles só estão de pé ainda porque vocês acreditam que eles são capazes de mudar alguma coisa? Vocês acreditam tanto que eles acabam acreditando também. A vitória está dada faz tempo. Vocês é que não perceberam que ganharam.