Por que “2001” é um marco na história do cinema

Atualizado em 4 de abril de 2013 às 16:09

Aproveitamos o aniversário de 45 anos do lançamento da maior obra de Stanley Kubrick para dizer o que torna esse filme tão especial.

2001 uma odisseia no espaço
Até hoje, o longa gera discussões e teorias sobre o seu final

A maior obra de um dos grandes gênios da história do cinema. Esse é 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, que hoje completa 45 anos desde seu lançamento.

O filme, que começou dividindo opiniões e crítica (como a maioria das produções de Kubrick em seu lançamento), acabou ganhando um status cult e, por fim, tornou-se a maior bilheteria de 1968 nos Estados Unidos.

Atualmente, é considerado o maior feito do diretor, tendo ficado em 6o lugar na lista dos 10 maiores filmes da história pela renomada revista Sight and Sound, do British Film Institute, e em 2o na lista feita pelos diretores, atrás apenas de Tokyo Story, de Yasujiro Ozu. Além disso, o longa é tido como o maior filme de ficção científica, influenciando posteriormente diretores como Steven Spielberg, George Lucas e Ridley Scott. O último, que dirigiu clássicos do sci-fi como Alien e Blade Runner, classificaria 2001 como “um filme impossível de ser batido, ironicamente matando o gênero de ficção científica, tornando-o obsoleto.”

Independentemente da polêmica e discussões que gera – e que acabam por só reafirmar sua grandeza –, levando alguns a o considerarem uma verdadeira obra prima e outros a o rotularem como chato e insosso, é inegável que o filme foi um divisor de águas na história do cinema. E, por isso, prestamos aqui nossa homenagem a seu aniversário de lançamento citando alguns dos pontos que tornam 2001: Uma Odisséia no Espaço o ícone revolucionário que é.

Linha narrativa

Diferentemente do que vemos na maioria dos filmes, 2001 não possui uma linha narrativa clara a ser seguida – na verdade, o filme é dividido em quatro sequências distintas com personagens diferentes em cada uma delas, que têm em comum apenas a presença de um misterioso monólito, que acaba se tornando o fio condutor da trama.

Outro aspecto inusitado é o fato de Kubrick ter optado pelo pouco uso de diálogo (no total, há 88 minutos do filme sem fala). Essa escolha se deu já que o diretor não queria que tudo fosse explicado, deixando o filme muito mais ambíguo. Kubrick queria que o filme fosse uma experiência principalmente visual, visceral e subjetiva e usou como principal influência na hora de arquitetar a estrutura da história A Odisseia, de Homero, pois acreditava que o mar representava para os gregos antigos o mesmo fascínio e mistério que o espaço representa para a nossa geração.

Música

Exatamente pelo fato do filme não ter muitos diálogos – e de grande parte deles serem banais, diga-se – a música teve um papel fundamental no filme. Destoando do que se é feito na maioria das vezes desde aquele tempo até hoje, Kubrick usou pouca trilha sonora original em 2001, dando destaque para músicas clássicas que dariam o tom épico que o filme merecia ter, como a valsa mais conhecida de Johann Strauss II, Danúbio Azul, e Assim Falou Zaratustra, poema sinfônico composto por Richard Strauss e inspirado no tratado filosófico de mesmo nome de Friedrich Nietzsche, que combinava com os temas do filme, principalmente a ideia do filósofo do Super-Homem, que aceita a natureza caótica da vida e do universo.

Efeitos Especiais

Visionário que era, Kubrick inovou na época nas formas de atingir visualmente os efeitos que queria, principalmente para simular o espaço. 2001 foi o primeiro filme a usar o efeito de projeção frontal para combinar uma ou mais imagens em um só frame; também construiu um centrifugador gigante abaixo do set para simular a falta de gravidade; e emprestou outras técnicas vindas da fotografia para poder produzir a psicodélica sequência final do filme.

Temas

Mas, acima de tudo, o que mais chama atenção em 2001 são seus temas. Kubrick, como na maioria de seus filmes, foi muito ousado nas discussões geradas durante a trama. O roteiro aborda profundamente temas como o início da civilização na seção inicial que apresenta uma briga por poder entre duas tribos de homens-macaco; inteligência artificial, com a participação de HAL 9000 (considerado o 13o maior vilão da história do cinema pela mesma revista Sight & Sound), computador que comanda a aeronave em uma missão secreta a Júpiter – e que, ironicamente, é o personagem que mais esboça sentimentos durante o filme; e vida alienígena de uma maneira bem densa – o diretor, junto com Athur C. Clarke, que colaborou no roteiro, chegou a consultar Carl Sagan para saber como seria a forma de vida extraterreste. Assim, o diretor fugiu dos clichês de aliens que lembram de alguma forma a aparência humana, chegando a um conceito mais amplo, transformando-os numa espécie de vida tão evoluída que se resumiria basicamente em uma forma de energia. Eles, inclusive, são apenas sugeridos graças à presença do monólito, que liga desde o começo da civilização até o presente.

Mas, mais do que isso, 2001 aborda a natureza humana e uma de suas essências: a busca pelo poder; o próprio salto no tempo que o filme dá de sua primeira sessão para a segunda só enfatiza que, por maior o avanço que a civilização tenha conseguido, a briga continua sendo a mesma.

O fim abstrato e ambíguo pode incomodar algumas pessoas, mas a intenção de 2001, como próprio Kubrick declarou, não era de trazer explicações, mas discussões – além de ser uma experiência altamente sensorial e subjetiva. Isso gera discussões e teorias que duram todos os 45 anos desde o lançamento do filme. O romance indica que o fim do longa seria o começo de uma nova era, mas não há certeza de que essa tenha sido a intenção do diretor inglês, que preferiu deixar as interpretações abertas ao público.

Mas o fato é que 2001 foi, no mínimo, um divisor de águas na história do cinema em termos narrativos e visuais. E isso, diferentemente do filme, não é passível de discussão.