O que pensa, o que fala e o que quer Odilo Scherer

Atualizado em 16 de março de 2013 às 21:43

O candidato brasileiro a papa é uma alternativa ou é mais do mesmo? Odilo em pílulas de sabedoria.

Odilo e o papa emérito: "Nunca pude ver nele aquele homem autoritário ou duro”
Odilo e o papa emérito: “Nunca pude ver nele aquele homem autoritário ou duro”

Há uma torcida compreensível da maioria dos brasileiros para Dom Odilo Scherer ser o novo papa. Alguns sonham com Galvão Bueno gritando, apoplético: “Ééééééééé… do Brasil!!!” Odilo está bem na fita. Segundo as bolsas de apostas, é o segundo nome mais cotado, atrás apenas do cardeal italiano Angelo Scola, arcebispo de Milão.

Sua candidatura sofreu um revés, ontem, depois de seu depoimento sobre os escândalos do Banco do Vaticano, em torno de depósitos de procedência duvidosa. Odilo, segundo fontes do jornal italiano La Reppublica, foi defensivo ao falar do assunto (o último escândalo financeiro, aliás, diz respeito à construção de um prédio de apartamentos em Roma em que o Vaticano teria gasto 23 milhões de euros; o edifício, em que moram 18 cardeais que estão no Conclave, conta com a maior sauna gay da Europa).

Odilo Scherer não é um reformador, como João XXIII, e nem um intelectual, como Ratzinger. É um conservador. Sua escolha pode dar um gás, aqui, a uma igreja que perde fieis, de maneira sistemática, para as denominações evangélicas. Os 123 milhões de católicos ficarão felizes.

No mundo real, é muito pouco provável que um papado de Odilo Scherer mudará alguma coisa em relação às questões profundas com as quais a igreja católica se debate atualmente. Ele está completamente alinhado com sua organização. Não traz nada de novo. Embora afirme que a igreja deva viver “no compasso do tempo e da cultura”, ele olha para trás.

Para conhecê-lo melhor, eis um apanhado do pensamento vivo de Dom Odilo, extraído do site da CNBB.

 

Sobre os escândalos em torno da renúncia de Bento XVI

“É preciso lembrar que cada um deverá prestar contas a Deus pelas afirmações mentirosas e injuriosas ditas contra o próximo ou também a igreja”.

“Infelizmente, as palavras do próprio Papa, proferidas no anúncio do dia 11 de fevereiro sobre sua renúncia, foram deixadas de lado, como sendo não-verdadeiras, para dar largas a todo tipo de suspeitas, especulações e conjecturas sobre os “reais motivos” da renúncia. Alguém nas condições e na autoridade do Papa deveria merecer mais crédito e respeito”.

Sobre Bento XVI

“Um homem sereno, simples, inteligente, atento ao interlocutor, interessado em ouvir, extremamente gentil e fino no trato com as pessoas. Nunca pude ver nele aquele homem “autoritário” ou “duro”, como algumas vezes foi descrito; isso não corresponde à verdade”.

Sobre os desafios do novo papa

“Há os desafios internos da renovação constante da Igreja, para que ela viva no compasso do tempo e da cultura, sem deixar de ser ela mesma; há os desafios externos, representados pela cultura do nosso tempo, muitas vezes fechada ao Evangelho, senão, contrária a ele”.

“Há os desafios da presença pública da Igreja no mundo, no contexto da política, da economia, da educação, das relações sociais e internacionais. De fato, o Evangelho não é um bem privado da Igreja, mas uma “luz” para o mundo, que não deve ser ocultada, mas irradiada. Enfim, os desafios podem ser muitos, mas não devemos esperar que eles sejam enfrentados pelo papa sozinho, nem sempre em primeira pessoa”.

odilo roma

Sobre casamento gay

“Isso é contrário à natureza e também, objetivamente, contrário à Lei de Deus e, por isso, a Igreja nunca poderia dar a sua aprovação. A diferenciação sexual tem um sentido e revela um desígnio de Deus, que nós devemos acolher e respeitar. A união de duas pessoas do mesmo sexo quebra esse sentido”.

“Pode-se dar o nome que se queira, mas isso nunca será verdadeiro ‘casamento’. Usando o mesmo nome e conceito que se emprega para o casamento entre um homem e uma mulher, acaba sendo introduzida uma confusão antropológica, jurídica e ética muito grande”.

“Não se trata de verdadeira família, pois falta algo de importante para ter essa identidade. Para coisa nova, nome novo.  Se fosse usado um outro conceito, em vez de “casamento”, e uma outra convenção social para esses casos, em vez a da “família”, pelo menos a família e o casamento, no seu sentido verdadeiro, estariam preservados”.

“É lamentável e não creio que isso seja um passo adiante na civilização. O tempo dirá”.

Sobre o preservativo

“Há um incentivo mais ou menos explícito à vida sexual ativa muito precoce; que dizer da distribuição, por órgãos do Governo, de preservativos em escolas para crianças e adolescentes?! E isso leva a uma difusa promiscuidade sexual (“basta usar camisinha”…) e ao desrespeito pela dignidade da mulher, que vem camuflado, com freqüência, por discursos de “defesa” da liberdade feminina”.

Sobre homossexualidade

“Sobre isso há muita confusão na cultura atual; ao invés de ter a identidade sexual como um dado de natureza, com significado e valores próprios, tende-se a ver nela um fenômeno cultural volúvel, uma “construção subjetiva”; cada um lhe daria a orientação ditada pela vontade, sentimentos e gostos pessoais”.

“Será que não estamos aqui diante de um tremendo equívoco, apoiado no pressuposto errôneo de que a ‘natureza humana’ não é um dado real, mas algo projetado pelo sujeito, de dentro para fora de si?”

À paisana nos tempos de seminarista, em Astorga (PR)
À paisana nos tempos de seminarista, em Astorga (PR)

Sobre o aborto

“Custa-me crer que alguém, em sã consciência, defenderia a pena de morte para uma criança recém-nascida e indefesa; seria desumano e monstruoso! E que diferença faz, entre uma criança de um dia de vida e outra, ainda não nascida?”

“Maus tratos contra os animais serão punidos com penas de um a quatro anos de prisão, podendo chegar a 6, se ocorrer a morte do animal. E matar um animal numa experiência científica leva a uma pena de até seis anos de prisão (art 391). No entanto, matar uma criança concebida “por meios ilícitos” não leva a nenhuma penalização”.

Sobre o islamismo e outras religiões

“As religiões têm uma grande contribuição a dar para a convivência social, o desenvolvimento dos valores espirituais, a promoção da dignidade humana e a construção da paz; desta contribuição depende a própria credibilidade das propostas religiosas”.

“Pensemos no significado da numerosa imigração de povos muçulmanos para os países da Europa, tradicionalmente cristãos, onde o cristianismo hoje está decadente?! Consequências dos movimentos migratórios podem ser a relativização dos valores e referências morais e religiosos que as pessoas levam consigo, a sua sincretização e até o simples abandono. Diante do fenômeno da globalização, também a evangelização precisa ser repensada, para se tornar sempre mais globalizada”.

Sobre o celibato e as acusações de pedofilia na igreja

“Há quem logo tem a solução, sempre pronta à espera de aplicação: É só acabar com o celibato dos padres, que tudo se resolve! Ora, será que o problema tem a ver somente com celibatários?”

“E ficaria bem jogar nos braços da mulher um homem com taras desenfreadas, que também para os casados fazem desonra? Mulher nenhuma merece isso! E ninguém creia que esse seja um problema somente de padres: A maioria absoluta dos abusos sexuais de crianças acontece debaixo do teto familiar e no círculo do parentesco. O problema é bem mais amplo!”