Um malufista histórico no governo

Atualizado em 8 de maio de 2013 às 7:58

Afif tem um compromisso ideológico: ele mesmo.

Ele
Ele

O texto abaixo foi publicado em abril. Dada a atualidade do assunto, decdimos republicá-lo.

Guilherme Afif Domingos, vice-governador de São Paulo, não quer largar o osso.

Convidado a ser ministro da Pequena e Média Empresa, Afif está se empenhando em buscar pareceres jurídicos que lhe permitam acumular as duas funções. Um dos consultados seria o advogado constitucionalista Fabio Konder Comparato. O convite é parte de um acordo com o PSD de Kassab, que possui a terceira maior bancada da Câmara, com 49 deputados, mesmo número do PSDB. O PSD entra com o apoio a Dilma em 2014.

Afif coordenou a parte financeira das duas últimas campanhas do PSDB, ao governo e à prefeitura. Alckmin é obrigado a engolir o vice, de quem não gosta. Suas reuniões com a militância, durante as eleições, eram acompanhadas de risos de escárnio. “Ele trazia uma lousa e fazia uma explanação sobre como os militantes pagavam imposto demais. Parecia a Escolinha do Professor Raimundo”, me disse um pessedebista histórico. “O que ele está fazendo com o PSDB é o que uma bactéria faz num pudim. Afif é mais um conservador populista que o partido acolheu e não sabe o que fazer com isso”.

De acordo com a constituição, só podem acumular cargos públicos os professores e os profissionais de saúde. “Não interessa a ninguém brigar por causa disso”, disse Afif à Folha de S.Paulo. É evidente que interessa e é evidente que há conflito de interesses – mas não para ele. Afif é um caso clássico de sobrevivência política sem votos e pragmática. Como Kassab, está do lado do poder.

Com o colega Kassab
Com o presidente do PSD, o amigo Kassab

“Guilherme Afif Domingos é como uma doença que passa despercebida até a hora em que a vítima está de cama”, diz o peessedebista. Malufista histórico, Afif tem um currículo digno do padrinho: foi condenado, com outros colegas do antigo PDS, a ressarcir a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo por usar funcionários para a impressão de propaganda e pela venda de um imóvel da IMESP à Associação Comercial, a qual presidia.

Durante a gestão Kassab, sua seguradora, a Indiana, fez um contrato com a prefeitura em que a empresa recebeu mais de 10 milhões de reais. Afif afirmou que era apenas membro do conselho e que desconhecia totalmente o contrato (a Indiana havia sido vendida para a Liberty Seguros, mas ele e seu irmão, Claúdio, continuaram no negócio).

Foi secretário de Agricultura de Maluf. Em 1989, concorreu à presidência pelo PL. Quem tinha mais de 10 anos na época se lembra de seu bordão (e de sua basta cabeleira), que vinha acompanhado de um gestual patético das mãos: “Juntos chegaremos lá!”. Chegou lá: sexto lugar, depois de aparecer como a grande esperança branca no início, à la Russomanno. Foi candidato a senador em 1990, perdendo para Eduardo Suplicy e Ferreira Netto. Em 1998, assumiu como secretário do Planejamento de Celso Pitta. Pediu demissão do PFL para fazer uma proposta de governo para Maluf. Gaba-se de ser o criador do impostômetro, um aparelho que mede a arrecadação federal.

Em 2007, virou – surpresa! – secretário de emprego e relações do trabalho de São Paulo na gestão Serra. “Ele quer os dois cargos, de vice e ministro, porque, como dizia o Ulysses Guimarães, político sem mandato nem o vento bate nas costas”, conta o peessedebista ouvido pelo Diário. Afif não tem problema com isso. Nós deveríamos ter.