A Venezuela segundo a Folha

Atualizado em 9 de abril de 2013 às 7:36

Pobres leitores.

Levou paulada o tempo todo da mídia
Levou paulada o tempo todo da mídia

Vale a pena ler a entrevista que a Folha publica hoje com Nicolas Maduro, provável  futuro presidente venezuelano.

A entrevista foi feita por uma das melhores jornalistas da Folha, Mônica Bergamo, titular da coluna social do jornal.

O que me chamou a atenção, e compartilho com vocês, é quanto a desinformação promovida  pelas grandes empresas de mídia acabam por afetar até os próprios jornalistas da casa – que dizer, então, dos leitores.

Mônica, a certa altura, mostra preocupação com o que julga ser pouco espaço dado na mídia ao candidato de oposição Henrique Capriles.

“O candidato Capriles diz que não tem acesso às rádios porque as que dão abertura à oposição são perseguidas. Não é importante que as vozes divergentes tenham espaço?” 

Eis uma pergunta  que seria mais bem endereçada a Otávio Frias, aliás — a questão do espaço para as “vozes divergentes”.

Resposta de Maduro:  “Bem, mas elas têm 80% dos meios de comunicação. Se você vai agora mesmo a qualquer lugar (…) e compra os jornais, verá que são privados e contra o governo. As televisões regionais, as rádios, 80% a 90% delas são contra o governo. Fazem seu negócio, vendem seu produto.”

A imagem que se tem no Brasil – propagada pela própria Folha, e da qual foi vítima até Mônica Bergamo – é que a mídia venezuelana é controlada pelo governo.

Seria como se um jornalista venezuelano fosse a Brasília entrevistar Dilma e perguntasse: “Senhora presidenta, em nome da democracia, a oposição não deve ter mais  espaço na mídia?”

Chávez governou 14 anos sob ataques  desonestos de toda natureza da mídia venezuelana. A infame tentativa de golpe contra Chávez foi arquitetada pelos barões da mídia local, com apoio do governo americano, ávido por manter as rédeas num país tão rico em petróleo.

Como no Brasil, a mídia venezuelana teve um papel vital na construção de uma sociedade abjetamente desigual, com milhões de seres invisíveis — os “Zés do Povo”, para usar uma expressão cara ao patriarca das Organizações Globo, Irineu Marinho.

Mônica Bergamo reproduziu, em sua pergunta tão errada, e respondida com tanta paciência por Maduro, o que leu na Folha sobre a Venezuela.

Ou em Jabor, o que é ainda pior.