A luta das mulheres por mais igualdade na China

Atualizado em 21 de fevereiro de 2013 às 8:39

Elas têm de lidar com uma cultura machista e com a presença exígua na política e nos cargos de chefia.

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POR WENDY WANG

 

Uma frase famosa de Mao Tsé-Tung é frequentemente citada na China: “As mulheres sustentam metade do céu”. Mas essa metade está pesando demais para elas.

Ma Leijun, uma funcionária do programa da ONU Mulheres na China, revelou que o continente chinês ocupa atualmente a 72ª posição mundial no índice de eqüidade de gênero.

Muitos podem achar que os números são bons, mas considere o seguinte: o Japão está em 56º lugar e a Coréia do Sul em 61º. A China está apanhando de seus vizinhos mais próximos, cujas donas de casa são vistas pelos chineses como cordeiros mansos e submissos, que se ajoelham diante dos homens que sustentam a família.

A repressão das mulheres na China tem uma longa história. Eles foram obrigadas, em tenra idade, a impedir seus pés de crescerem, de modo que sua marcha cautelosa agradasse a uma estética pervertida concebida por homens.

Elas também tiveram negado o direito à educação e ao emprego, e fizeram parte de casamentos polígamos sem amor, cuja função era dar filhos ao marido de modo a perpetuar a linhagem dele.

O grande salto adiante para as mulheres veio, porém, na esteira da fundação da República Popular da China, em 1949, com a decisão do PC de promulgar leis para a liberação delas e pela igualdade de gênero.

Hoje, elas superam os meninos nos exames seletivos e em esportes, além de sobreviver cinco anos a mais, em média.

No entanto, elas não estão autorizadas a ultrapassar colegas do sexo masculino quando tentam subir na carreira, com os pés dos colegas firmemente plantados em seu rosto.

Para começar, locais de trabalho são teimosamente indelicados com mulheres de alta performance. Eu mesma encontrei, alguns anos atrás, um conjunto assustador de anúncios de emprego afirmando que queriam apenas homens, mesmo se as mulheres fossem igualmente qualificadas. As coisas não estão melhorando.

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Empresas evitam mulheres que poderiam exigir licença-maternidade. E atitudes patriarcais ainda sustentam que o instinto materno estimula as mães a ser mais orientadas para a família do que para a carreira.

Contra todas as probabilidades, as mulheres chinesas conseguiram formar 44,8% da força de trabalho até o final de 2004, como mostrado em um relatório emitido pelo Conselho de Estado. As estatísticas parecem uma prova da declaração de Mao.

No entanto, embora as mulheres ocupem uma grande fatia do mundo corporativo, apenas um punhado delas está em cargos de chefia.

A Coreia do Sul elegeu sua primeira presidente, Park Geun-hye, em dezembro de 2012, mas não há lugar para as mulheres na nova formação do Comitê do Politburo da China, com sete membros, e a presença feminina é escassa nos níveis ministerial e provincial.

Mesmo quando as mulheres aparecem nas duas sessões anuais do partido, as câmeras captam imagens distorcidas. Dão zoom nas meninas que servem chá e não nas mulheres sentadas em suas mesas. O machismo profundo, difícil de mudar, precisa de um toque feminino para quebrar a monotonia do clube de garotos que forma a nação.

E os anais estão cheios de mulheres que se jogam para cima dos burocratas. O teórico de marxismo-leninismo Yi Junqing foi destituído por causa de sua amante no mês passado. Ele não conseguiu que Pequim autorizasse uma residência oficial para ela.

Não é de admirar que haja uma suspeita em toda promoção de funcionárias mulheres, o que só faz a paridade de gênero parecer muito mais uma torta dividida no céu do que uma realidade.