Numa quase solidão oceânica, ele combate o bom combate.
Mino Carta é uma referência para os jornalistas brasileiros.
Lúcido, combativo, ativo e dotado de algo que eu chamaria de ira santa.
Mino não se conforma que o Brasil seja tão injusto socialmente, e que a classe a que ele pertence, a dos jornalistas, contribua tão pouco para mitigar a disparidade.
Mino combate o bom combate numa quase solidão transatlântica.
Para cada Mino, há dezenas de jornalistas que combatem o mau combate. Mas há nele alguma coisa de redenção para os jornalistas: é como se, mesmo em colossal minoria, Mino representasse o jornalismo brasileiro, e não os inumeráveis escaravelhos que se dedicam a defender um mundo abjetamente desigual e simplesmente insustentável.
Tem todas as virtudes que um jornalista pode ter: é um estilista ao escrever, edita com mestria, dá o título certo para a capa certa.
Mas seu ponto mais alto é a ira santa.
A ira santa dá a Mino um vigor extraordinário. Já quase octogenário, ele encontra tempo, energia e motivação para escrever um romance sobre o mundo que conhece tão bem, o do jornalismo.
É conhecida sua baixa opinião sobre o jornalismo brasileiro, e não sou, definitivamente, quem haverá de discordar. Presumo que o livro – que comprarei – retrate esse universo desolador.
Mino tem voz, e dá voz a quem não tem, os 99%. Os outros, quase todos, apenas reproduzem a voz dos patrões.
Por isso Mino ficará, e os escaravelhos não.
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